Ouvi falar dos Expedicionários pela primeira vez em 2005. Desde então fiquei com a idéia de fazer um filme sobre eles. Mais do que um grupo de médicos voluntários fazendo um trabalho social na Amazônia, as expedições pareciam conter algo de único, algo especial que merecia ser investigado mais a fundo.
Embarquei com uma câmera na expedição ao rio Xié em abril de 2008. A idéia inicial era filmar como pesquisa, para pensar em um roteiro, para então voltar em uma segunda expedição e fazer o filme. A fotógrafa Raquel Brust me encontrou na aldeia alguns dias depois e a equipe estava formada.
Seguíamos os acontecimentos da aldeia com o mínimo de interferência. Em pouco tempo, não éramos mais notados pelos médicos e nem pelos pacientes.
E os pacientes – índios das diversas etnias que compõem a região de fronteira com a Colômbia e a Venezuela - apareciam sem aviso prévio. E com eles, suas histórias. Assim encontramos o menino de seis dedos, o índio Tarcísio com seu RG apagado, a índia Lilian com sua barriga inchada. E dona Maria, com sua vontade de operar hérnia. Histórias que mereciam ser contadas. O material, de pesquisa, virou filme.
E o que há de único nas expedições?
Para mim, elas apresentam um encontro único entre os índios e a dita civilização. Porque ali, nos dias em que as cirurgias acontecem, ambos estão – indígenas e homens da cidade – fora de seus contextos habituais. O médico não está no hospital, o índio não está na sua aldeia e nem no posto de saúde. Todos se encontram nesta gelada tenda cirúrgica no meio da floresta amazônica.
Fora de seus contextos naturais, os personagens dessa história ganham relevos distintos, trazendo olhares novos para questões que não são novas: a precariedade da saúde indígena, a presença da igreja dentro da aldeia, o desaparecimento da medicina tradicional, os extremos continentais e sociais do Brasil.
Em Expedicionários, não há entrevistas, nada foi planejado. A câmera leva o espectador para a aldeia, para que possa ver e tirar suas impressões.